sábado, 28 de agosto de 2010

Origens italianas da CCB


A Italianidade na Gênese do Pentecostalismo Brasileiro 

Gloecir Bianco


Resumo

Este artigo é uma síntese da monografia de mestrado em Ciências da Religião intitulada "UM VÉU SOBRE A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO BRASIL", onde o autor resgata alguns aspectos relevantes da imigração italiana para o Brasil.

Considera a permanência e adaptação dos imigrantes no estado de São Paulo, especificamente no bairro do Brás, mostrando faces de sua adaptação à realidade do país. Resgata a saga de Louis Francescon, um trabalhador simplório que ainda jovem, deixa sua terra natal no norte da Itália e parte em direção aos Estados Unidos da América. Após passar por uma profunda experiência pentecostal no início do século XX, Louis Francescon inicia uma fase de questionamento dos dogmas presbiterianos e inicia uma jornada solo que culmina com a viagem para a América Latina e Brasil, em busca de pregar o evangelho aos imigrantes italianos.

É no bairro do Brás em São Paulo, após uma passagem rápida pelo povoado de Santo Antonio da Platina, no norte pioneiro do estado do Paraná, que estabelece a Congregação Cristã no Brasil, a primeira denominação pentecostal brasileira. No início, conhecida e identificada por muitos como a "igrejinha dos italianos" e hoje, início do século XXI, perdeu por completo a memória italiana. Merece, contudo, destaque sua adaptabilidade à cultura brasileira.

Palavras chave: Italianidade, Etnia, Pentecostalismo

Gloecir Bianco: Graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Marketing, MBA em Gestão Avançada de Negócios, Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.


1. Introdução

Desde o final da década de 70, com o advento do chamado movimento neopentecostal no Brasil, o Pentecostalismo Clássico ou Tradicional vem lutando para continuar a crescer, tentando delimitar suas fronteiras[1]. Dentre essas denominações pentecostais, encontra-se a Congregação Cristã no Brasil, que é considerada por muitos como uma das mais tradicionais do Protestantismo Brasileiro[2]. Iniciada no ano de 1910, na cidade de Santo Antônio da Platina, norte pioneiro do estado do Paraná, ela pode ser considerada a primeira denominação pentecostal do País. Organizada pelo italiano Louis Francescon, um 'missionário' cuja experiência de fé deu-se na Igreja Presbiteriana de Chicago (Estados Unidos da América), a qual ajudou a fundar e que, anos mais tarde (e após passar por uma experiência carismática), constrangido pelo Espírito Santo, conforme declara em sua pequena autobiografia[3], seria, então, conduzido especialmente para evangelizar imigrantes italianos na América Latina. A Congregação Cristã é conhecida, no meio protestante, por conservar as mesmas características e as mesmas linhas doutrinárias estabelecidas na sua organização no ano de 1910, e preservadas até os dias atuais.[4] É difícil conceber que, em pleno século XXI, um grupo religioso preserve em suas celebrações a separação de homens de um lado do templo e mulheres de outro, onde o poder (liderança) é exercido exclusivamente por leigos do sexo masculino e onde os costumes e as doutrinas são transmitidos, fundamentalmente, pela tradição oral[5]. Mais inconcebível ainda é o fato de, em detrimento de toda a sua rigidez doutrinária, ser umas das denominações brasileiras com maior índice de crescimento.

Num primeiro momento o artigo apresenta uma breve análise da imigração italiana para o Brasil, resgata aspectos relevantes de sua adaptação ao novo país, a preferência por São Paulo e ao bairro do Brás. Considerando que italianidade era sinônimo de Catolicismo, o artigo apresenta uma realidade controversa. No dizer de Borges Pereira, uma "Face Esquecida pela história da Imigração"[6], pois foi exatamente no meio dos italianos que se deu a gênese do movimento pentecostal no Brasil. A saga de alguns de seus personagens mais importantes é também descrita de forma sucinta, assim como o estabelecimento definitivo como denominação no bairro do Brás, no meio dos italianos. Notório, portanto, sua origem étnica italiana a ponto de ser chamada "a igrejinha dos italianos"[7], contudo, a memória étnica se perdeu em algum ponto de sua trajetória. Neste início de século XXI não conserva mais qualquer traço ou costume italiano, segundo Borges Pereira: "A sensação de perda de identidade parece ser muito forte"[8].

2. A Imigração Italiana

Embora seja possível falar especificamente do fluxo migratório italiano para o Brasil, apenas a partir da segunda metade do século XIX, quando sentiu, de maneira precisa, a necessidade de mão-de-obra, o Brasil considerou conveniente abrir as portas também ao cidadão italiano, já que era declarada a preferência pelos grupos germânicos, conforme manifesta ostensivamente o texto do primeiro decreto Brasileiro sobre o assunto, assinado por D. João VI em 16 de março de 1820:

"Considerando a vontade de emigrar que os diferentes povos da Alemanha e de outros países manifestam pelo excesso de suas populações e considerando oportuno o estabelecimento de colônias estrangeiras no seu Reino do Brasil, (...)" (Hunsche, 1973 pg. 29).


Pode-se, contudo, afirmar que a vinda de italianos começou bem antes disso. É possível identificar cinco períodos definidos de "ocupação" italiana, iniciando com a aventura e o pioneirismo que vai do descobrimento até o início do século XIX. Em seguida o que seguiu ao problema do exílio político na primeira metade do século XIX, seguido da grande migração. Já no século XX, encontramos o período ligado às perseguições fascistas (motivos raciais). E, finalmente, o período após-guerra, quando, aproveitando a generosa hospitalidade do Brasil, muitos italianos, comprometidos com o antigo regime fascista, procuraram asilo por aqui. A presença italiana, portanto, vem desde os primeiros tempos do descobrimento. Cita-se, por exemplo, um certo Benedetto Morelli, seguido, um pouco mais tarde (por volta de 1530), dos irmãos Francesco, Giuseppe e Paolo Adorno, que monopolizaram o comércio do açúcar do Brasil à Europa, desde os primórdios do descobrimento, juntamente com os venezianos. Segundo alguns historiadores foram eles os primeiros a introduzir a cana de açúcar no Brasil[9].


3. Viagem programada

Nem sempre se faz menção que, durante algum tempo, a imigração italiana foi programada, principalmente, visando substituir a decrescente imigração de origem germânica. Em 1874, um cidadão de nome Felippo Capellini apresentou um projeto de colonização italiana planificada, com a finalidade de povoar o território entre as cidades de Rio Grande e Pelotas no estado do Rio Grande do Sul. Esse plano foi designado de "Nova Roma" e os trabalhadores italianos deviam ser, segundo Thales de Azevedo:

"escolhidos com cuidado nas diversas províncias da Itália Central, onde há maior moralidade e bons costumes na classe agrícola e onde a prática da agricultura é melhor adaptada a este lugar" (Azevedo apud Angeleri, 1975 pg. 35).

Ao analisar os grupos de imigrantes, seja pelos sobrenomes de famílias, seja por seu tipo de falar o italiano,[10] principalmente no interior do estado do Rio Grande do Sul, pode-se afirmar que a maioria dos imigrantes era proveniente da região norte oriental da Itália, ou seja, da região do Veneto, do Friulli[11], do Trentino e de algumas províncias orientais da Lombardia. A maioria dos italianos que se fixou no Paraná e Santa Catarina, também provinha das mesmas regiões. Algumas das indicações estatísticas disponíveis[12] mostram que, não apenas no início, mas também nas fases sucessivas, o fluxo migratório da Itália para o Brasil, substancialmente, provinha das províncias do Norte.

A imigração programada se estendeu de 1870 a 1930 e visava estimular a vinda de imigrantes: as passagens eram financiadas, bem como o alojamento e o trabalho inicial no campo ou na lavoura. Os principais destinos dos imigrantes nesse período denominado 'imigração subvencionada', foram as fazendas de café de São Paulo e os núcleos de colonização, principalmente os oficiais, localizados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo. Afora esses dois objetivos, uma terceira parte de imigrantes dirigiu-se para outras cidades, dentre elas, o Rio de Janeiro e São Paulo (capital). Adensadas por indivíduos que abandonavam o campo, re-emigravam de outros países ou mesmo burlavam a vigilância, não seguindo para o interior, estas cidades foram crescendo.


4. Preferência por São Paulo e pelo Brás

Hospedaria do imigrante

Em São Paulo, que chegou a ser identificada como uma "cidade italiana" no início do século XX, os italianos se ocuparam, principalmente, na indústria nascente e nas atividades de serviços urbanos. Chegaram a representar 90% dos 50.000 trabalhadores ocupados nas fábricas paulistas em 1901. No início, entretanto, o destino era mesmo as fazendas de café do interior paulista, que também incluía o que conhecemos hoje como interior paranaense. Logo que os italianos chegavam, o governo os recebia em alojamentos provisórios. Apenas em 1882 foi inaugurada uma hospedaria no bairro do Bom Retiro, no entanto, o local era pequeno e lá proliferavam diversas doenças. Foi necessário, então, começar a construir um novo local que pudesse atender à demanda crescente de estrangeiros. Em junho de 1887, começou a funcionar a Hospedaria do Imigrante, com capacidade para 1.200 pessoas, mas esse número muitas vezes foi ultrapassado, sendo registrada, em várias oportunidades, a presença de 6 mil pessoas alojadas. Nos 91 anos de atividades, estima-se que o local tenha acomodado aproximadamente três milhões de pessoas. Atualmente, o complexo abriga o Museu da Imigração.
Ao chegarem às fazendas de cafés, muitos imigrantes foram tratados semelhantemente aos escravos, chegando alguns a dormir nas senzalas. Isso porque a maioria dos fazendeiros, acostumados a tratar com escravos, demoraram algum tempo a se acostumar com o novo sistema de trabalho. A grande massa de italianos que se tornavam colonos ou empregados de uma fazenda de café trabalhavam em condições muito duras, tendo pequenas oportunidades de acumular algum capital. Eram proporcionalmente poucos os que realizavam o sonho da compra de uma pequena propriedade e, quando o faziam, não se tratava de propriedades de grande valor. As famílias de imigrantes que chegavam nas fazendas de café se submetiam a um contrato de trabalho segundo o qual todos, inclusive mulheres e crianças, deviam trabalhar. O contrato determinava, ainda, que cada família cuidaria de um número determinado de pés de café, recebendo para cada mil pés uma certa quantia em dinheiro[13]. Além disso, o contrato lhes dava direito a casa e quintal, podendo criar animais, fazer horta, plantar milho e feijão entre as fileiras do cafezal que estivessem a seu cuidado. Raramente, no entanto, podiam dispor de excedente dessa produção para comercializar.


Italianos fabrica paulista
As condições como operários das indústrias não foram muito diferentes. Era muito difícil ao imigrante melhorar de vida, quer financeira quer socialmente. Assim, é comum encontrar registros de italianos e estrangeiros, neste período, iniciando atividades por conta própria, realizando serviços e trabalhos tipicamente urbanos nas maiores cidades brasileiras. Muitos se especializaram como mascates, artesãos e pequenos comerciantes; motorneiros de bonde e motoristas de táxi; vendedores de frutas e verduras, tanto como ambulantes, como em mercados; garçons em restaurantes, bares e cafés; engraxates, vendedores de bilhetes de loteria e jornaleiros. Entre os imigrantes bem sucedidos que começaram "do nada", o exemplo mais evidente em São Paulo é o do Conde de Matarazzo[14].

Se as condições de trabalho eram insalubres, também o eram as de moradia, já que, com freqüência, os imigrantes se instalavam em habitações coletivas - os cortiços - ou nas "favelas", situadas nos morros. Por outro lado, em algumas cidades, podiam morar em determinados bairros étnicos – com destaque para o bairro do Brás e Bexiga em São Paulo - onde contavam com a cooperação e solidariedade dos vizinhos, o que em muito aliviava suas lides cotidianas. Nas três décadas seguintes (1855 a 1890), o bairro do Brás teve multiplicado seus mirrados 974 habitantes iniciais para um total de 16.807 no final. O aumento, aí alcançado, foi de 17,25 vezes ou, em termos relativos, de 1625%. Se diluirmos esse número ao longo dos anos que compõem o período aludido, chegamos à conclusão que sua população cresceu na média de 826 pessoas por ano, a imensa maioria dela, originária de fora. Podemos imaginar, a partir dessas cifras, o que esse incremento populacional representou para os moradores do Brás daquela época. E mais, o que essa avalancha humana de dimensões astronômicas recém-chegada teria causado nas já precárias condições de vida de seus habitantes. O bairro não possuía o mínimo de infra-estrutura urbana para abrigar, de forma decente, todo esse extraordinário contingente. A incorporação abrupta desses novos moradores fez, no início da última década do século, o Brás atingir o patamar dos 16.807 habitantes. Sozinho representava mais de um quarto (25,9%) da população paulistana.

Com a intensidade e o volume desse fluxo humano, a Hospedaria do Brás, como se pode imaginar, tornou-se um centro permanente de tensões entre seus hóspedes e de atenções por parte da classe dirigente da cidade. O local, por se constituir num imenso alojamento de força de trabalho, por atrair negociantes dispostos a todos os tipos de transações e por requerer, diariamente, uma quantidade expressiva de produtos de diversas ordens para abastecer seu consumo, tornou-se, ele mesmo, num entreposto gerador de uma infinidade de novas atividades urbanas. Os anos que se seguiram à abertura da Hospedaria, construída, a princípio, em terreno ermo, viram nascer à sua volta uma gama infindável de pequenos comércios e atividades ligadas à construção civil que iam desde a edificação até a implantação de infra-estrutura urbana para integrá-la ao conjunto do bairro e à cidade.


No início da última década do séc. XIX o Brás já contava com toda a infra-estrutura industrial necessária para um parque fabril, combinado com uma concentração de força de trabalho nitidamente proletária, abundante e acessível. Seus espaços foram sendo ocupados por residências de uns e fábricas de outros. Havia já se transformado, de um lado, num verdadeiro distrito industrial para os donos do capital e, de outro, num enorme bairro operário, para os trabalhadores[15].

Por sua vez, no interior paulista, com propriedades agrícolas cada vez mais prósperas, algumas famílias de imigrantes tentavam se fixar. Outras, seguindo o caminho de seus patrões, avançavam em direção ao Sul cruzando a divisa com o Paraná, em busca de terras férteis. Muito provavelmente, nestes movimentos é que se instalou no interior do Paraná, num pequeno povoado católico chamado Santo Antonio da Platina, algumas poucas famílias de italianos, dentre eles Vicenzo Pievani e Felício Mascaro[16], que se tornariam personagens chaves na gênese do Pentecostalismo Brasileiro, como relataremos a seguir.
5. Um Imigrante Pentecostal

No ano de 1907, o movimento pentecostal[17] atingiu os imigrantes italianos em Chicago nos Estados Unidos da América. Suas celebrações eram realizadas na língua italiana e esse foi o estopim de um movimento missionário sem precedentes, tanto para o interior dos Estados Unidos quanto para outros países do mundo. Louis Francescon, um simplório trabalhador católico proveniente do norte da Itália, que havia se convertido ao protestantismo pela pregação e pelo modelo de vida de Michele Nardi[18], que havia participado da fundação da Primeira Igreja Presbiteriana Italiana de Chicago e, que por muitos anos dela participara como tesoureiro, seria fulminado por uma experiência carismática. E, agora "movido pelo Espírito Santo", seria enviado à América Latina para anunciar as "boas novas" aos imigrantes italianos. Louis Francescon, viajando em companhia de Lúcia Menna e Giacomo Lombardi, atingiram, inicialmente, a Argentina (Buenos Aires) e, posteriormente, o Brasil (São Paulo). A partir desse ponto, começa a história conhecida da Congregação Cristã no Brasil. Francescon fica conhecendo um italiano, residente no interior do estado do Paraná[19] chamado Vicenzo Pievani, a quem expõe sua fé, ali mesmo na Estação da Luz, em São Paulo. Em poucos dias, no entanto, Vicenzo retorna para seu povoado.


Francescon, sempre atribuindo seus movimentos ao Espírito Santo, é movido, então, a viajar a Santo Antônio da Platina, um Patrimônio[20] distante aproximadamente 600 quilômetros de São Paulo. Sem ter qualquer endereço, sem falar uma palavra de português, sem dinheiro e sofrendo dores, provavelmente, uma crise de rins, embarcou em um trem da, então, estrada de ferro Sorocabana que partia às 5:30 da manhã, chegando à estação de Salto Grande às 11:00 horas da noite. Desse ponto, ainda distante aproximadamente 70 quilômetros, percorreu no lombo de um cavalo, guiado por um indígena da região. De acordo com a narrativa do próprio Francescon:
"Parti de São Paulo às 5:30 horas com uma terrível dor lombar que me impediu tomar alimento durante todo aquele dia. Cheguei a Salto Grande às 23 horas e nesse lugar o Senhor me disse ter preparado tudo para mim, a fim de cumprir minha missão; e assim aconteceu, porém, faltavam fazer cerca de 70 quilômetros a cavalo, atravessando matas virgens infestadas de jaguaras e outras feras existentes no lugar. Pela Graça de Deus, fiz este resto de viagem com um guia indígena, chegando a Santo Antônio da Platina em 20 de abril" (Histórico da Obra de Deus revelada pelo Espírito Santo no Século Passado, 2002 pg. 45).

A semente havia começado a germinar, Vicenzo já ouvira sem rejeição a pregação do Evangelho em São Paulo, por ocasião do primeiro encontro. Agora, juntamente a esposa brasileira, abria as portas de sua casa para reunir e iniciar, o que testemunhas do local chamam de "a primeira irmandade" da Congregação Cristã no Brasil. Felício A. Mascaro também italiano, casado com uma brasileira, mais alguns amigos, no total de 11 pessoas, ouviram atentamente e durante, aproximadamente 45 dias[21], a ministração daquele italiano, pessoa humilde, porém com grande autoridade e conhecimento na mensagem que pregava.

"Foram batizados na água 11 pessoas e confirmados com sinais do Altíssimo. Estas foram as primícias da grande obra de Deus naquele país" (Histórico da Obra de Deus revelada pelo Espírito Santo no Século Passado, 2002 pg. 46).

Os parentes e amigos daquelas pessoas, rapidamente perceberam a "influência perigosa" daquele estranho, o vigário da região tomou conhecimento e partiu em "defesa de suas ovelhas". Louis agora estava em apuros, apesar de ter conseguido cumprir o que o Espírito lhe havia recomendado, agora ameaçado, precisando se esconder ou fugir daquele lugar, pois como ele próprio descreve:

"Logo após, o inimigo começou a trabalhar para destruir esta obra, mas foi em vão. O restante da população deste lugar, sabendo da minha vinda e de minha missão, tinha jurado matar-me. Eles tinham por chefe um padre de uma certa denominação. Isso teria acontecido se Deus não tivesse intervindo com Seus meios. O Senhor fez-me permanecer lá até 20 de junho. Eu estava pronto a entregar-me aos inimigos para poupar a vida de alguns crentes que o Senhor havia chamado. Deus é testemunha, assim como também os irmãos que habitam lá" (Histórico da Obra de Deus revelada pelo Espírito Santo no Século Passado, 2002 pg. 46).

O retorno de Louis Francescon a São Paulo se deu (provavelmente) no dia 21 de junho de 1910, um dia após sua partida de Santo Antônio da Platina. A partir dos episódios vividos no interior do Paraná, nos parece que Francescon recebeu uma verdadeira injeção de ânimo. É assim que ele narra esses acontecimentos:

"Parti de Santo Antonio da Platina em 20 de junho, com destino a São Paulo. Apenas chegando àquela Capital, o Senhor permitiu abrir uma porta, resultando que cerca de 20 almas aceitaram a fé e quase todas provaram a Divina virtude. Uma parte eram Presbiterianos e alguns Batistas e Metodistas e alguns também Católicos Romanos. Alguns foram curados e outros selados com o Bendito Dom do Espírito Santo" (Histórico da Obra de Deus revelada pelo Espírito Santo no Século Passado, 2002 pg. 46).

Essa porta que "o Senhor permitiu abrir", oficialmente, é o início da Congregação Cristã no meio de um bairro de imigrantes italianos, em São Paulo. Yuasa, ao escrever sobre esse início, faz a seguinte descrição:

"Returning to São Paulo he went to the Presbyterian Church on the Alfândega Street, in the section of the city called Braz, where some of its members were Italian. Francescon says that some were Methodists, some were Roman Catholics and some were Presbyterians. Out of a Congregation of 70 people, 20 were converted and left that church" (Yuasa, 2001 pg. 190).

O depoimento a Yuasa foi feito por João Finotti[22] no ano de 1960, então, o mais antigo dos Anciãos ainda em vida. Com esse contingente de 20 "novos convertidos" da Igreja Presbiteriana da Rua da Alfândega, iniciou-se em São Paulo a Congregação Cristã no Brasil sob o comando de Louis Francescon, que ali permaneceu até setembro de 1910, partindo, então, para o Panamá. O fruto de seu trabalho no meio dos italianos de São Paulo começou a prosperar, segundo depoimentos de João Finotti, já no ano de 1911 havia três Anciãos e o trabalho começou a expandir, primeiro em Água Branca e outro na Vila Prudente. No ano de 1914, um novo grupo foi formado em São João da Boa Vista e, no ano de 1916, a primeira propriedade foi comprada na Rua Uruguaiana no Braz. A partir desses acontecimentos a Congregação não parou mais de se expandir, primeiro para o Rio de Janeiro, depois para Minas Gerais e para a Bahia.

6. Uma Igreja de e para Italianos

CCB bairro do Brás - 1950
Mendonça, em seu importante trabalho Evolução Histórica e Configuração Atual do Protestantismo no Brasil, traz a seguinte declaração sobre a questão da italianidade da Congregação Cristã:

"Inicialmente Igreja de imigrantes italianos e crescendo pouco nas primeiras décadas,"explodiu" na década de 1950, quando os nordestinos passaram a ocupar lugar dos italianos no Brás. Ainda se vêem muitos nomes italianos em sua liderança, mas a grande massa já não é mais de italianos e seus descendentes" (Mendonça, 2002 pg. 49)

O conteúdo do trabalho de Mendonça, bem como todos os estudos realizados até ele, desde Léonard até o mais recente artigo de Borges Pereira[23], passando por Rolim e, evidentemente, pela monumental biografia de Louis Francescon, escrita por Yuasa, comprovam a tese. A Congregação Cristã foi por muitos anos, uma igreja formada basicamente por imigrantes italianos. Chegou mesmo a ser chamada de "igrejinha dos italianos"[24], apesar de ser considerada uma igreja brasileira. Contudo, durante esse período atribuído aos italianos, o crescimento da Igreja foi considerado muito pequeno, bastante discreto. Rolim traz uma fotografia bastante interessante não só confirmando a questão da italianidade da Congregação, como também desenha o cenário do bairro do Brás em São Paulo, onde a grande massa de italianos vivia e onde a Congregação Cristã se enraizou:

"o enraizamento da Congregação Cristã no Brasil foi, sem dúvida tarefa de italianos e seus descendentes. Sua expansão, porém, foi obra de brasileiros conversos (...) Desde o começo do século, o Brás foi se tornando um bairro tipicamente italiano. Gente falando só italiano, comércio e fábricas com pessoal italiano; escolas, igrejas católicas e protestantes, com suas aulas, cultos e pregações em italiano. (...) Ora, foi precisamente a esse bairro densamente ocupado por italianos que, em 1909, chegava o pentecostal Francescon, procedente dos Estados Unidos, trazendo nada menos que um projeto, o de comunicar sua experiência religiosa aos compatriotas que vieram para o Brasil " (Rolim, 1985 pg. 39).

Para Borges Pereira, grande estudioso dos movimentos religiosos étnicos, a questão da italianidade é realmente indiscutível.

"Francescon, sempre guiado, segundo ele, pela vontade de Deus, volta a São Paulo, mais precisamente para o bairro do Brás, predominantemente habitado pelos imigrantes italianos. Nesse bairro, com o apoio de seus patrícios, operários e industriais, consolida a sua igreja, que hoje se espalha por todo o território nacional"[25].

Esses depoimentos, resultados de um grande período de pesquisas e investigações, não deixam dúvidas de que a Congregação Cristã surgiu e se enraizou entre os italianos estabelecidos em solo brasileiro. A nacionalidade italiana de seu fundador, Louis Francescon, facilitou em muito o convencimento desse povo, reconhecidamente católico. Até meados do século XX, a cultura italiana ainda impregnava grande parte das Congregações, principalmente as da cidade de São Paulo. Os livros de hinos ainda eram bilíngües e, em muitas oportunidades, eram entoados em italiano. Alguns integrantes mais antigos na comunidade do Brás e de Bom Retiro comentam que as pregações, em muitas ocasiões, também eram realizadas em italiano.

"Desde o início e com o correr dos primeiros anos, a Congregação teve no imigrante italiano e seus descendentes o seu suporte social. Assim ela criou raízes. Prova disso é o livro de cânticos. As três primeiras edições saíram todas em italiano. A primeira logo no começo. A segunda em 1924. A terceira, de 1935, era parte em italiano e parte em português. Só em 1943 é que apareceu a quarta edição toda em vernáculo" (Rolim, 1985 pg. 39).

Ao percorrer as Congregações Cristãs, no entanto, assistir a seus cultos e conversar com a 'irmandade', fica absolutamente claro que esta italianidade se perdeu no tempo. Como bem disse Borges Pereira em seu trabalho sobre os italianos no interior de São Paulo:

"A sensação de perda de identidade parece ser muito forte entre os descendentes de imigrantes. É como se o passado estivesse desmoronando, ainda que a confiança no presente e no futuro da comunidade seja o tema recorrente no discurso dessas pessoas"[26].

7. Conclusão

A Congregação Cristã talvez seja a denominação protestante que melhor tenha se adaptado ao Brasil, principalmente, durante seu processo de introdução. Primeiramente se adaptou à comunidade italiana que, conforme procuramos demonstrar, teve no bairro do Brás em São Paulo, seu berço mais importante. Muitos autores atribuem a esse fato o enraizamento da denominação na sociedade paulistana do início do século. Foi também, segundo esses autores que, através da prática proselitista[27], a Congregação Cristã conseguiu se multiplicar:

"O imigrante italiano e descendentes, uma vez pentecostais, tornaram-se proselitista, mesmo sem pregação em praças públicas, pois a Congregação não a pratica. A conquista de novos adeptos ia se fazendo entre os italianos, o que não deve ter sido nada fácil, uma vez que em São Paulo eram os mais ardorosamente empenhados nas lutas operárias. O meio social dos novos adeptos era geralmente o pequeno comércio". (Rolim, 1985 pg. 39).

Em segundo lugar, como entende Mendonça, a adaptabilidade e a 'explosão' da Congregação, a partir da década de 1950, deveu-se em grande parte, ao nordestino que passou a ocupar o lugar dos italianos, notadamente no bairro do Brás em São Paulo. É sabido que as décadas de 1940 a 1980 marcaram o agigantamento da cidade de São Paulo. Brasileiros vindos de todas as regiões e principalmente dos estados do nordeste[28], fugitivos de grande período de seca, invadiam a cidade a procura de trabalho e melhores condições de vida. A grande maioria desses brasileiros era formada por pessoas simples, analfabetos ou semi-analfabetos e sem profissão definida que vinham engajar-se em trabalhos pesados, como a construção civil, aprendizes de marceneiros, empregados domésticos, carpinteiros, operários na indústria nascente etc. Sem dúvida, a explosão dessa classe populacional na cidade contribuiu para a expansão pentecostal e, certamente, contribuiu para o crescimento da Congregação Cristã.

Assim, a Congregação parece ter dado oportunidades, oferecido alternativas, primeiro, entre os imigrantes italianos que lutavam bravamente para conquistar um espaço, numa terra que não lhes pertencia e, posteriormente, para a população de nordestinos que escolheram São Paulo para fugir da seca e da fome. Ainda hoje parece ser a denominação pentecostal que mais se aproxima da população simples, notadamente nas pequenas cidades. Não faz diferenciação entre o clero e seus membros leigos, possui grande quantidade de templos desde as capitais até lugarejos humildes. Nela pessoas sofridas, sem recursos culturais ou financeiros, muitos sem profissões definidas, encontraram o canal de ascensão e aceitação social. Contudo, sua origem a partir da etnia italiana, foi esquecida, não faz mais a menor diferença dentro de uma estrutura em que valores, costumes, história e até doutrinas, foram transmitidos, alguns preservados e outros perdidos, como é natural a toda transmissão feita a partir do discurso oral.

8. Referências Bibliográficas


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BORGES PEREIRA, João Baptista. Italianos no mundo rural paulista. São Paulo: EDUSP, 2002.

BORGES PEREIRA, João Baptista. Italianos no protestantismo brasileiro: A face esquecida pela história da imigração. São Paulo: 2004, Revista da USP nº 63 Set – Nov 2004.

BORGES PEREIRA, João Baptista. Perfis de italianidade no Brasil. In: (org.)

CAMARGO, Cândido P. F. de. Católicos, protestantes, espíritas. Petrópolis: Vozes, 1973.

DE BONI, Luis Alberto. Far la Mérica. Porto Alegre: RioCell, 1991.

DREHER, Martin N. Igreja e germanidade. São Leopoldo: Sinodal, 2003.

HUNSCHE, Carlos Henrique.: Imigração Alemã no Brasil in História da Imigração. São Paulo: Serviço de Divulgação Cultural Brasileiro, 3ª edição.

LÉONARD, Émile G. O Iluminismo num protestantismo de constituição recente. Copyright: Universitaires de France, Paris, 1952. (Tradução de Prócoro V. Filho e Loide B. Velasques).

MENDONÇA, Antonio G. e Velasques Filho, Prócoro. Introdução ao protestantismo brasileiro. São Paulo: Loyola, 1990.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir. São Paulo: Aste, 1995.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantismo Brasileiro uma breve interpretação histórica – Sociologia da religião e mudança social – São Paulo: Paulus, 2004.

REILY, Duncan A. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste, 1998.

RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo no Brasil monárquico. São Paulo: Pioneira, 1991

SEVERINO, José Roberto. Noi Oriundi: Cultura, Identidade e Representações da Imigração Italiana em Santa Catarina. Tese de Doutorado em História Social na USP, 2004.

YUASA, Key. Louis Francescon: A Theological Biography 1866 – 1964. Genebra, 2001


Documentos

Ø Resumo da Convenção realizada em Fevereiro de 1936; Reuniões e Ensinamentos realizadas em Março de 1948; Pontos de Doutrina e da Fé que uma vez foi dada aos Santos; Histórico da Obra de Deus, Revelada pelo Espírito Santo no Século Passado; Mensagens. São Paulo, Augusto, 2002.

Ø Congregação Cristã no Brasil, RELATÓRIO, Edição 1997, 1998, nº 61. São Paulo, Geográfica.

[1] Antonio Gouvêa de Mendonça em: Protestantismo Brasileiro uma breve interpretação histórica (artigo publicado no livro: Sociologia da Religião e Mudança Social), faz a seguinte referência sobre a classificação protestante no Brasil: "A distinção deve ter como princípio geral a doutrina do Espírito Santo como referida no Pentecostes. Para as igrejas cristãs tradicionais em geral, o Pentecostes foi o evento fundante da Igreja Cristã, segundo a promessa de Cristo no Evangelho (João 14: 16-18). Pela presença constante do Espírito na Igreja, o Pentecostes não se repete. Para os pentecostais clássicos, o Pentecostes se repete como experiência renovada e, particularmente, fenomênica do Espírito. Por isso, as igrejas pentecostais, segundo sua forma de crença fundamental, distinguem-se essencialmente das tradicionais da Reforma. Além dessa ruptura básica, os pentecostais, bem como os neopentecostais, distinguem-se dos protestantes tradicionais pela forma de transmissão religiosa, que nesses se dá por uma pedagogia racional e naqueles pela emoção (Rivera, 2001 p. 256)".

[2] Ainda, segundo Mendonça no mesmo artigo citado acima: "A Congregação Cristã no Brasil, em geral, inserida no grupo de pentecostais clássicos, tem características que dificultam sua classificação...".

[3] Autobiografia de Louis Francescon, contida num pequeno folheto de aproximadamente 50 páginas com o título: "Resumo de uma ramificação da obra de Deus pelo Espírito Santo no século atual".

[4] Também, segundo Mendonça, em Protestantismo Brasileiro uma breve interpretação histórica, a Congregação Cristã no Brasil "tem origem pentecostal e assim deve ser considerada, mas é significativo seu distanciamento da glossolalia por causa da disciplina rigorosa exercida por sua liderança".

[5] Sobre isto o autor mencionado faz a seguinte citação: "A ordem é garantida a todo preço, assim como uma unidade admirável para um grupo religioso que se mantém exclusivamente pela comunicação oral".

[6] Ver nota 22 página 15.

[7] Ver nota 23 página 16.

[8] Ver nota 26 página 18.

[9] Essa informação é encontrada na obra de Paolo Angeleri "Imigração Italiana no Brasil" que faz parte do compêndio: "História da Imigração". Há, no entanto, muita controvérsia com relação a esta informação, para o historiador Prof. A. Souto Maior, a introdução da cana de açúcar no Brasil teria acontecido já antes de 1516, quando se encontra um registro em que D. Manuel assinara um alvará mandando distribuir "machados e enxadas e todas as ferramentas às pessoas que fossem a povoar o Brasil e que procurassem e elegessem um homem prático e capaz de ir ao Brasil dar começo a um engenho de açúcar; que se lhe desse uma ajuda e também todo o cobre e ferro necessário e mais coisas para o fabrico do dito engenho" (Souto Maior, 1968 pg. 87).

[10] Segundo registra Luis A. de Boni em sua obra: Far la Mérica, sobre a presença Italiana no Rio Grande do Sul, a convivência entre imigrantes de várias proveniências numa situação de isolamento, com escolas fundadas por eles próprios, onde se lecionava em italiano, com pregações religiosas em italiano, com autoridades que procuravam compreendê-los e, até mesmo, expressar-se na língua deles; tudo isto levou a um processo de fusão entre os diversos dialetos, criando-se uma língua comum à qual acrescentaram-se palavras de proveniência portuguesa. Trata-se de um novo dialeto, semelhante, mas não idêntico aos dialetos vênetos, e que seguiu uma evolução própria à medida que se estancou a vinda de novos imigrantes e a comunicação com a Itália. (De Boni, 1991 pg. 138).

[11] Proveniente dessa região, o fundador da Congregação Cristã no Brasil. Louis Francescon é originário de Cavaso Nuovo, província de Udine, norte da Itália.

[12] Segundo Thales de Azevedo (in Angeleri), dados colhidos em 26 municípios demonstram que os avós e bisavós provinham do Veneto (54%), do Trentino (7%), do Friuli (4,5%), da Lombardia (33%).

[13] A respeito da condição dos imigrantes e seus ganhos, a Profª Zuleika M. F. Alvim, em seu livro Brava Gente, faz a seguinte referência à pesquisa em duas cadernetas, realizada por Gina Lombroso: "uma das famílias, composta por um viúvo com três filhas meninas, teve como receita o total de 635$724 réis por um ano de trabalho. Nesse caso, exatamente porque a família contava com apenas um elemento na lavoura, toda a receita veio daí (80%) e de seu trabalho extra como diarista (20% aproximadamente). Só 3,1% vinha de gêneros de subsistência. Ao lado disso, estavam as despesas com carnes, verduras, leite e outros produtos. Em contrapartida, a caderneta de uma família composta de três trabalhadores – uma mulher e dois homens – não tinham despesas com esses gêneros e chegava a apresentar um saldo positivo na receita".

[14] Em 1881, já casado e com dois filhos, decide-se mudar com a família para o Brasil. Traz algum dinheiro e uma partida de queijos e vinhos, que se perde quando o barco afunda no porto. Ele nunca revelou quantas liras trouxe, apenas dizia que era "um milhar". Com o dinheiro que veio no bolso, inicia seus negócios, abrindo uma casa comercial em Sorocaba, na época um dos principais pólos comerciais do estado. Matarazzo percebe a demanda por banha e decide investir na compra de porcos, mesmo não tendo terras para criá-los. Deixava os animais com fazendeiros antes de vendê-los aos fabricantes de banha. Logo seu patrimônio cresceu e ele decidiu montar sua própria fábrica. Em 1890, traz da Itália seus irmãos Giuseppe e Luigi, com os quais cria a empresa Irmãos Matarazzo, com filiais em São Paulo e em Porto Alegre. Em 1934, o Conde Matarazzo tinha um dos 500 maiores grupos empresariais do mundo: um império de 365 indústrias que fabricavam da banha até pregos, passando por papel e açúcar. As indústrias Reunidas F. Matarazzo empregavam 30 mil funcionários e alcançavam faturamento bruto mensal de 350 mil contos de réis, enquanto a receita do estado era de 400 mil contos de réis. O Conde Francisco Matarazzo morreu em 1937, deixando o império para seus 12 filhos vivos, dos 13 que teve. O comando das indústrias ficou com o quinto filho homem, Francisco Matarazzo II, conhecido como Conde Júnior ou Chiquinho. O grupo não resistiu ao pós-guerra, às crises do mercado brasileiro e aos problemas de sucessão e, ao longo dos anos, boa parte do patrimônio da família foi vendido.

[15] Eis, no entender de Lourenço Diaféria, um fato relevante para entender que a urbanização do Brás não foi apenas de forma elitista: "As raízes do futebol brasileiro estão no Brás. Charles William Miller, 20 anos, paulistano apesar do nome, nascido na casa dos avós e dos pais, todos ingleses, numa chácara da Rua Monsenhor Andrade, no Brás" (...).

[16] Vicenzo Pievani era um italiano originário da Província Macerata na Itália. Residente no Patrimônio de Santo Antônio da Platina, encontrou-se com Louis Francescon na Estação da Luz em São Paulo. Na casa (ou melhor, no hotel) de Vicenzo Pievani, em Santo Antônio da Platina, inicia-se a pregação de Louis Francescon no Brasil. Felício A. Mascaro um italiano, também residente no povoado, em cuja casa Louis Francescon permaneceu por muitos dias, quando de sua estada em Santo Antônio da Platina.

[17] O movimento pentecostal tem a sua origem nos Estados Unidos, no final do século XIX e início do século XX. Surgiu dentro do Metodismo como um movimento de renovação, dito "Holiness" (Santidade). Esse movimento ensinava que, depois da conversão (necessária para a salvação), o cristão deveria passar por uma "segunda benção" ou uma nova e mais profunda experiência religiosa, que era chamada de "batismo no Espírito Santo". Em 1900, um grupo de metodistas que tinham aderido ao "Holiness", após interpretarem passagens da Bíblia (At 2,1-12; 10, 44-48; 19, 17), chegaram a conclusão que o sinal característico do "batismo no Espírito Santo" é o dom das línguas (glossolalia). Posteriormente, buscaram os outros dons do Espírito Santo, entre os quais, a cura de doenças pela imposição das mãos.

[18] Michele Nardi era outro italiano, considerado um dos pioneiros da pregação do Evangelho entre imigrantes italianos na América. Nascido em Savignano Sul Rubicone, província de Forli próximo a Florença em 2 de novembro de 1850, seu trabalho era estabelecer igrejas entre os imigrantes nos Estados Unidos. "Mr. Nardi presented the Gospel with such simplicity and power that the people were surprised and attracted and held, for he knew his Bible and spoke authority. He preached faithfully the second coming of Christ, and exhorted them to watch and pray as his coming would be soon. He also preached the Baptism of the Holy Spirit and the whole counsel of God". (Simpson apud Yuasa 2001 pg. 56).

[19] Santo Antônio da Platina localiza-se no, hoje, denominado Norte Pioneiro do estado do Paraná, muito próximo à divisa com o Estado de São Paulo.

[20] Nesta época, Santo Antônio da Platina ainda era um Patrimônio, somente sendo promovido a cidade no ano de 1914.

[21] Segundo depoimento de João Alves Barreto, genro de Felício Mascaro, morador de Santo Antônio da Platina, a cerimônia de batismo somente ocorreu no dia 05 de junho de 1910, num córrego que cortava o povoado, hoje, denominado Ribeirão do Boi Pintado. Considerando que, pelo depoimento de Francescon, sua chegada ao povoado se deu no dia 20 de abril de 1910, passaram-se 45 dias até a referida cerimônia.

[22] João Finotti, em 1910, então, com 16 anos, era membro da igreja Presbiteriana na Rua da Alfândega, no Braz, quando Louis Francescon os visitou. A partir de testemunhos e pregações, Francescon "conquistou" 20 dos 70 membros da igreja, dentre os 20 estavam João Finotti (que, segundo seu próprio testemunho, apesar de freqüentar a igreja não havia ainda abandonado os hábitos do mundo) e sua mãe. Agora, por ocasião desse depoimento, o Ancião João Finotti era considerado o Presiding Ancião, esse papel cabe ao mais antigo dos Anciãos, que exerce a função de moderador entre eles.

[23] Borges Pereira em seu artigo: Italianos no Protestantismo Brasileiro: A Face Esquecida Pela História da Imigração para a Revista da USP nº 63 Set – Nov 2004.

[24] Nota de rodapé do livro de Leonard: "Eis as indicações do caráter étnico dadas pela enquete para as comunidades de S. Paulo. No bairro de Cerqueira César os vizinhos falam "Igrejinha dos italianos". A entrevistadora assinala em 1948: 50% estrangeiros ou filhos de estrangeiros, italianos, espanhóis, portugueses,... mulatos e alguns negros"

[25] Artigo do Professor João Baptista Borges Pereira: "Italianos no Protestantismo Brasileiro: A face esquecida pela história da imigração". Revista da USP nº 63 Set – Nov 2004.

[26] Italianos no Mundo Rural Paulista, pesquisa de um núcleo de imigrantes italianos realizada pelo Professor João Baptista Borges Pereira, abrangendo o período após a Segunda Guerra Mundial, especificamente, sobre grupos de colonos estabelecidos em Pedrinhas, SP.

[27] Voltamos a ressaltar que, a exemplo do que nota Rolim, proselitismo: "não tem aqui sentido pejorativo. É tomado na acepção etimológica de fazer discípulos, adeptos, seja que se trate dos que diziam não ter religião alguma, seja que se considerem os que passaram do catolicismo, ou de outra religião, para o protestantismo". (Rolim, 1985). Especificamente, neste caso, aqueles que, advindos de qualquer outra denominação, passaram a pertencer à Congregação Cristã no Brasil.

[28] A migração nordestina para São Paulo faz parte de um contexto de desenvolvimento econômico e social adotado historicamente. No período do pós-guerra, a proposta de industrialização-desenvolvimentista maciça do País impulsionou a saída de migrantes de várias partes do Brasil que se dirigiram para o Rio de Janeiro e São Paulo - à medida que os dois estados estabeleceram-se como linha de frente no processo industrial brasileiro. (O censo de 1970 registrou que cerca de 1,5 milhão de nordestinos viviam em São Paulo durante a década de 60.). (...) No caso da migração nordestina para o Estado de São Paulo, é interessante notar também como ela caminhou ao longo da década de 60, 70 e 80. O Censo Demográfico de 1970 que mede o que aconteceu na década anterior, registrou que havia 1.459.627 pessoas nascidas no nordeste vivendo no Estado de São Paulo. O Censo de 1980 contou 1.163.324 e, segundo as preliminares do Censo de 91, como citado anteriormente, os migrantes nordestinos eram



OBS.: TODAS AS IMAGENS DESTE ARTIGO NÃO CONSTAM NO ARTIGO ORIGINAL MAS FORAM INSERIDAS PELO AUTOR DO BLOG COMUMCCB

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Fotos da obra de Deus na India

Seguem algumas fotos da obra de Deus na India.  Lá os cristãos de forma geral estão sendo perseguidos e até mortos (independente de igreja, católica, evangélicos).
Precisamos orar pela India, pois é difícil a vida lá.
Créditos: http://grou.ps/ccbonline/home

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Resumo histórico do irmão Luigi Francescon




Luigi Francescon e Esposa

 
CCB - Fotos da CCB e Cidades Bíblicas


 
Funeral de Luigi Francescon


 
CCB - Fotos da CCB e Cidades Bíblicas


 
Luigi Francescon (Cavasso Nuovo, 29 de março de 1866Oak Park, 7 de setembro de 1964) foi um religioso italiano, fundador da denominação evangélica Congregação Cristã no Brasil.


Radicado em Chicago, foi membro da Igreja Presbiteriana Italiana e aderiu ao pentecostalismo em 1907. Em janeiro de 1910 esteve em Buenos Aires onde fundou a primeira denominação pentecostal da América Latina, a Assembléia Cristã na Argentina, e de março a setembro do mesmo ano esteve no Brasil, onde fundou as primeiras igrejas pentecostais brasileiras em Santo Antonio da Platina (Paraná) e São Paulo, entre imigrantes italianos, germem da futura denominação Congregação Cristã no Brasil. Veio 11 vezes ao Brasil até 1948. Em 1940, o movimento tinha 305 "casas de oração" e dez anos mais tarde 815. Faleceu em Oak Park, Illinois, em 07 de setembro de 1964.

Infância, juventude, família e missão

Proveniente de família pobre, era filho de Pietro e Maria Lorsa Francescon, não chegou a concluir o segundo ano da escola elementar.
Aos quinze anos foi para a Hungria, ganhou a vida até os vinte anos com a arte de criar mosaicos, um oficio bastante valorizado na época.
Serviu ao exército durante aproximadamente trê anos. Aportou na América na cidade de Chicago no dia 3 de março de 1890, onde foi recebido pelo seu irmão Osvaldo com qual havia estado pela ultima vez na Hungria. Neste mesmo ano foi evengelizado por Michele Nardi, ligado a Alleanza Cristiana e Missionária, aceitou a Cristo como seu salvador em 1891 e em 1892 junto dos irmãos de fé valdense fundaram a Primeira Igreja Presbiteriana Italiana, onde Francescon exerceu o ministério de diácono. Na Igreja Presbiteriana Italiana conheceu Rosina Balzano com quem se casou no ano de 1895, teve seis filhos.
No ano de 1901, Francescon passa a desempenhar o ministério de ancião da Primeira Igreja Presbiteriana Italiana, suas memórias citam uma experiência pessoal, em princípios de 1894 quando estava em Cincinnati, Ohio, por motivo de trabalho. Estando ajoelhado em seu quarto, orando e lendo a Bíblia, ao chegar em Colossenses 2.12, que trata do batismo por imersão, Francescon ouviu uma voz que lhe disse duas vezes: "Tu não obedeceste a este meu mandamento"; ao que teria respondido: "Senhor, jamais alguém me falou neste assunto". Sua carreira de fé mudou após esse acontecimento. A partir desta experiência Francescon passa a questionara a prática do batismo por aspersão.
Nove anos após a revelação do batismo por imersão, em 06 de setembro de 1903, por motivo de viagem do pastor Filippo Grilli, Francescon como ancião presidia a reunião e teve a oportunidade de falar com a igreja sobre tal batismo. Nesta reunião Louis fez o convite a igreja para assistir ao seu batismo por imersão, realizado em 07 setembro de 1903, no Lake-front de Chicago, onde compareceram ao todo 25 membros da Igreja Presbiteriana Italiana, dos quais 18 entre eles Francescon, foram batizados por Giuseppe Beretta.
Quando o pastor Filippo Grilli retornou, Francescon pediu para dirigir algumas palavras a igreja antes do sermão. Tendo permissão questionou a igreja sobre sua conduta durante a ausência do pastor, como nínguém testificou nada contra ele, novamente falou do batismo por imersão e em seguida apresentou sua demissão do cargo de ancião. Àqueles que foram batizados por Giuseppe Beretta acompanharam Francescon.
Assim iniciou-se naquele momento uma pequena comunidade evangélica livre, denominada Assembléia Cristã de Chicago, que realizava suas reuniões em residências. Em julho de 1907, sua esposa recebeu a promessa do Espírito Santo, o que ele próprio também recebeu dias após, em 25 de agosto, na Missão de Fé Apostólica localizada na W. North Ave, 943. Essa igreja era conduzida por William Durham, pastor batista entusiasmado com a mensagem pentecostal. A igreja do grupo de Beretta, reunida na West Grand Avenue, em Chicago aceitou a doutrina do Batismo no Espírito Santo proposta por Francescon em Setembro de 1907, voltando ele a ocupar o ofício de ancião naquela igreja.
Em janeiro de 1908, batizou nas águas cerca de 70 desses novos irmãos, alguns dos quais milagrosamente foram libertos de doenças crônicas e incuráveis, entre os quais um por nome Giácomo Lombardi.
Em março do ano seguinte, Francescon e Lombardi, ambos casados e com seis filhos, abandonaram seus empregos e integraram-se à causa da fé. Em 4 de setembro, embarcaram de Chicago para Buenos Aires chegando na Argentina, em janeiro de 1910, fundaram a primeira denominação pentecostal da América Latina à Assembléia Cristã na Argentina.
Da Argentina, seguiram até São Paulo, em 8 de março de 1910, onde permaneceram até 18 de abril, quando Lombardi retornou para Buenos Aires e Francescon seguiu para Santo Antônio da Platina, no Paraná, onde chegou dois dias depois. Durante sua estadia, onze pessoas creram no Evangelho, foram batizadas em águas e no Espírito Santo.
Por contrariar poderes religiosos estabelecidos na região, Francescon foi jurado de morte e regressou para São Paulo, em 20 de junho. Chegando naquela cidade, cerca de 20 pessoas (na maioria presbiterianos, batistas e metodistas, além de alguns poucos católicos romanos) creram na pregação de Francescon, alguns dos quais foram curados de enfermidades e outros selados com o dom do Espírito Santo. Estas foram as primícias da Congregação Cristã no Brasil.


Fonte: http://www.ccbhinos.com.br/ccb-curiosidades-congregacao-crista-no-brasil/Foto-Luigi-Francescon-MTE5

Hinário número 1 em italiano, raríssimo!!

Baixe o hinário número 1, em italiano, coisa rara para ser guardado com muito carinho:

http://docs.google.com/leaf?id=0B5Qrkq94c_GFNjczODllZjctMDgyMy00OTBkLWEyZWUtNWVkYjdhZjkwZDE5&hl=pt_BR

Fiquem com Deus,
Abner B Gonçalves

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pluralidade na CCB

Trabalho importante sobre a CCB, não encontrado em outros sites, para todos os que desejam conhecer um pouco mais sobre a Igreja Congregação Cristã no Brasil.

Aborda desde o início no interior do Paraná, por Louis Francescon até os tempos atuais, onde a CCB utiliza de ferramentas modernas para gestão administrativas, mas mantém uma liturgia e costumes quase que inalterados durante os 100 anos de existência.


PLURALIDADE JURÍDICA NA CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL – DAS CARTAS DE FRANCISCON AO CCBINFO

CURITIBA 2008

ADRIANO APARECIDO CARNEIRO
ANDREIA DA SILVA
FLAVIA BORA
LUDUVINO STEMPNIAK

FESP – Fundação de Estudos Sociais do Paraná


ICSP – Instituto de Ciências Sociais do Paraná

Trabalho apresentado em seminário, à disciplina de Sociologia Jurídica, sob orientação da Professora Mestra Rosita Cordeiro de Loyola Hummell.


SUMÁRIO


1. INTRODUÇÃO..................................................................................4
1.1 LOUIS FRANCISCON E O ACONTECIDO DA RUA AZUZA...................5
1.2 A CHEGADA DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL..............................6
1.3 SANTO ANTONIO DA PLATINA, NO PARANÁ, UM MARCO...................6
3. NO INTERIOR DO PARANÁ AS PRIMEIRAS DIFICULDADES..................8
4. A CONGREGAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO....................................9
4.1 PRINCIPIO DA ORGANIZAÇÃO.........................................................9
4.2 CONGREGAÇÃO CRISTÃ DO BRASIL PARA O MUNDO......................10
4.3 A POLÍTICA QUE MANTEM O PODER E A TRADIÇÃO........................11
5. A DISTÂNCIA ENTRE O ESTADO DE DIREITO E A IGREJA...................13
5.1 CONTATO FRIO ENTRE PESSOAS JURÍDICAS..................................13
5.2 COMUNIDADE EXEMPLAR, E A INFLUÊNCIA SOCIAL.......................15
6. DAS REGRAS INTERNAS, ORGANIZAÇÃO E CONDUTA........................17
6.1 A GUIA DOUTRINÁRIA.....................................................................17
6.2 OS ENSINAMENTOS DA MORAL E DO COSTUME..............................18
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................22
ANEXOS ...............................................................................................23

1. INTRODUÇÃO

A Congregação Cristã no Brasil é uma comunidade religiosa ímpar na atualidade, chamada por alguns de seita, ou movimento contraditório, e considerada por outros como o verdadeiro caminho para a salvação da alma. Devido a algumas características, que pretendemos demonstrar ao longo deste trabalho, sua imagem se mantêm como um quadro imutável, em sua história quase centenária, obviamente houveram algumas reformas discretas, muitas vezes imperceptíveis até mesmo entre a membros em geral, como exemplo temos a última reforma do seu estatuto, que ocorreu no ano de 2004, e passou desapercebido às pessoas da comunidade que não estão ligadas diretamente aos ministérios ou cargos, em geral estes assuntos formais são deixados única e exclusivamente nas mãos dos administradores, sempre com a supervisão do Conselho de Anciães.

Os estatutos somente se adaptaram à legislação do Estado, os manuais simplificam processos já um tanto padronizados, apesar de não haver dispositivos normativos para isto. Aparentemente suas regras tomam a forma de conselho, que prontamente são atendidos pelos membros em geral. Destacaremos, no entanto, a parte dos costumes que, por suas características, provocam a pluralidade jurídica, uma vez que suas regras morais e de condutas são bem aceitas e praticadas, proporcionando um certo isolamento, entre a comunidade e a sociedade em geral.

Esta aldeia global chamada Congregação Cristã no Brasil, que chamaremos eventualmente de CCB, devido a popularidade da sigla no universo atual da instituição, mantém essa separação, que não é geográfico (pois a CCB está espalhada em muitos países e em todos os tipos de ambientes, sejam urbanos ou rurais, periferias ou áreas nobres), mesmo infiltrada de forma aleatória na paisagem.

É inegável o isolamento social, onde ainda hoje, aproximadamente 68,35 % de seus membros não possuem aparelhos de televisão em suas casas, conforme pesquisa apurada pelo grupo com dados coletados entre os anos de 2001 a 2008 em localidades do interior do estado de Rondônia, São Paulo na capital, interior (Santo Antonio da Platina) e Capital (Curitiba e Campo Largo) do Paraná, há recomendação a quem tem ministério que não convém possuir e ninguém que possua será indicado, no entanto proibe ataques aos meios de divulgação, e cultura do governo, conforme dita os Ensimamentos da Assembléia de 1997.

Os membros esclarecidos preferem outras formas de informação menos invasivas, como leitura de jornais e publicações especializadas em informações. As atividades de interação na comunidade são quase que exclusivamente internas, ou seja, se resumem às reuniões na igreja, aos cultos, ensaios musicais na igreja ou na casa de membros, e reuniões familiares menores.

Mesmo entre os jovens não é comum freqüentarem danceterias, clubes sociais esportivos, e uma série de outras atividades.

A história da CCB remonta a de Louis Franciscon, fundador da filosofia praticada até a atualidade. Notem o testemunho do próprio Franciscon em uma das pouquíssimas publicações oficiais da CCB: "No mesmo ano, ouvi o Evangelho por meio da pregação do irmão Nardi. Em dezembro de l891 tive do Senhor a compreensão do novo nascimento" (CCB. Histórico da obra de Deus. 1977). O ancião Louis Francescon, faleceu em 7 de setembro de l964, na cidade de Oak Park, Illinois, USA, mas seu trabalho se eterniza em uma das maiores igrejas pentecostais do mundo, aproximadamente 3 milhões de membros, que se mantém com uma organização simples e desburocratizada, como em seu princípio.



1.1 LOUIS FRANCISCON E O ACONTECIDO DA RUA AZUZA

Louis Francescon nasceu na comarca de Cavasso Nuovo, em 29 de março de l866, província de Udine, Itália. Após servir ao exército italiano imigrou para a américa, chegando à cidade de Chicago, Estado de Illinois em 1890, onde conheceu o evangelho através da pregação de Miguel Nardi. Em 1891 compreendeu a necessidade do novo nascimento e aceitou a salvação oferecida por Jesus Cristo. Fundou a primeira Igreja Presbiteriana Italiana juntamente com algumas famílias de procedência valdense e o grupo de Miguel Nardi, em março do ano seguinte. Inicialmente Franciscon foi eleito diácono e, passado alguns anos, ancião dessa igreja.

Segundo relato do próprio Francescon, três anos após a fundação da igreja Presbiteriana Italiana, lia a Bíblia Sagrada, em Colossensses, quando ouviu duas vezes as seguintes palavras: "Tu não obedecestes a este meu mandamento" (Historico da obra de Deus). Com isto coloca a prova o batismo por aspersão, e não imersão, praticado pelo Igreja Presbiteriana Italiana.

Em 6 de setembro de l903, em um domingo, após 9 anos da revelação acerca do batismo, aproveitando a ausencia do Pastor Filippo Grilli, convidou a Igreja para assistir ao seu batismo por imersão, que se deu no dia seguinte, onde 18 dos 25 membros da igreja Presbiteriana Italiana se batizaram. Retornando o Pastor Filippo Grilli, da Itália, Francescon pede seu desligamento daquela Igreja, seguido pelo grupo batizado. Este grupo dissidente reuniam-se nas casas uns dos outros.

Em l907 esta pequena comunidade teve contato com o movimento pentecostal nascido recentemente, participando das reuniões da missão religiosa na W. North Ave, 943, guiadas pelo Pastor William H. Durhan, oriundo do movimento Azuza, de Los Angeles, berço do pentecostalismo. Em 25 de agosto de l907, Louis Francescon recebeu o Batismo do Espírito Santo junto ao novo grupo, depois de algum tempo, Durham o incumbe da missão de levar a mensagem do evangelho à colônia Italiana, iniciando naquele país, depois Argentina, Brasil, Panamá, seguindo a expansão do movimento para o mundo.



1.2 A CHEGADA DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL

Cumprindo sua missão “evangelística” na Argentina, como lhe atribuiu o Pastor Durham, Francescon e um companheiro, Giacomo Lombardi, viajam a São Paulo, Brasil, chegando em 8 de março de l910. No segundo dia no Brasil, na Praça da Luz, evangelizam um italiano chamado Vicenzo Pievani, morador de Santo Antonio da Platina, porém decepcionados com os resultados de suas pregações, em 18 de abril, Lombardi partiu para Buenos Aires, e Francescon para Santo Antonio da Platina, no norte do Paraná, chegando lá em 20 de abril de l910, deixou estabelecido ali um pequeno grupo de 11 crentes pentecostais, dentre eles Pievani e Felício Mascaro (primeiro brasileiro batizado), ficaram conhecidos inicialmente como “povo do glória” , o primeiro grupo do segmento pentecostal no Brasil.



1.3 SANTO ANTONIO DA PLATINA, NO PARANÁ, UM MARCO

Este município é hoje um centro histórico mundial não somente para a CCB, mas também para o pentecostalismo brasileiro, ruas são nomeadas em homenagem ao primeiro convertido batizado no Brasil (Felício Antonio Mascaro), e a anciães falecidos, a exemplo temos o Ancião Júlio Cirilo de Souza que, de acordo com a Lei 377/2004, nomeia uma rua do Jardim Altvater, naquela cidade.

Júlio foi uma pessoa muito carismática conquistando o respeito e admiração junto à comunidade e sociedade em geral, “em uma visita à sua casa conversou sobre vários assuntos, sempre com um sorriso sincero, apesar da idade avançada teve disposição em cantar uma marchinha antiga sobre os bombeiros a salvar a cidade”, nos relatou Karina Tatiana, que é a terceira geração de sua família na Congregação, em depoimento sobre uma visita àquele ancião em 1998, na época moradora naquela cidade.

O primeiro local de reunião no sertão do Paraná (ver anexos), hoje é um bairro central da cidade, continua sendo propriedade da igreja, que mantém um abrigo com acomodações para visitas. Possui 5 templos (Relatório 2006/2007, n° 70), sendo esta localidade uma das mais conservadoras quanto às suas doutrinas e costumes entre as demais. Não incentivam romarias ou excursões, por temerem a idolatria aos lugares históricos, prática que acreditam desagradar a Deus.



3. NO INTERIOR DO PARANÁ AS PRIMEIRAS DIFICULDADES

Como cita a antropologa Valéria Esteves, em sua dissertação sobre o pentecostalismo entre os indígenas Guaranis, “em busca do italiano Vicente Pievani, com a “missão” de convertê-lo e à sua família, Francescon teria passado por duras provas na viagem até Santo Antonio da Platina”.

A precária estrada de ferro Sorocabana cuja última estação era Salto Grande, e deixara-o a 200 quilômetros de seu destino final (não havia ainda os ramais até jacarezinho-Pr), conforme relato do próprio Francescon, o trecho final, entre Ourinhos-SP e Santo Antonio da Platina, teria feito a cavalo, eram 70 quilômetros em um caminho infestado de onças e outras feras, onde teria sido conduzido por um guia indígena, certamente do povo Guarani que habita reservas na região até hoje, como os da Terra Indígena do Laranjinha, alvo da dissertação da Valéria.

Sobre este mesmo trecho entre o estado Paraná e São Paulo temos o relato de José Lourenço, que há 60 anos transpôs o caminho com seu pai, João Militão, dirigindo um velho caminhão e seus 10 irmãos abrindo a picada com a ajuda de foices e machados. Franciscon chega a Santo Antônio da Platina, encontra Pievani e sua esposa, e junto a estes outras nove pessoas aceitam sua mensagem evangélica, abrindo mais um núcleo de fé pentecostal, como já dito, o primeiro no Brasil. Por conta disso, Francescon conta que foi perseguido por alguns moradores da cidade chefiados pelo sacerdote católico, que juraram matá-lo, o que não ocorreu e com o tempo a comunidade se acostumaria a eles.



4. A CONGREGAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO

Agora já se passaram quase cem anos da Revelação Pentecostal italiana, cheio de nostalgia, Vazantemg declara em sua publicação biográfica que “em um mundo agora tão diferente daquele de Francescon, a mensagem de fé a todo Evangelho ressoa ainda autorizando para nos recordarmos que a perpetuação desta Revelação Evangélica deve fundamentar-se sobre princípios que Francescon teve consigo até o fim: a autoridade absoluta da Santa Escritura, a guia insubstituível do Espírito Santo, a humildade do ministério cristão doado por Deus, o desinteresse pessoal e a firme vontade que qualquer estrutura da Igreja do Senhor deva ser apenas uma forma de trabalho fraterno e jamais se transformar em uma organização do "poder humano".

Traz a tona uma realidade sempre perseguida pela CCB, que se moderniza, inclusive com sítios na internet destinados aos registros e informações administrativas, o CCBsist e o CCBnet interligam atualmente todas as administrações que lançam seus relatórios e controles em tempo real, de qualquer lugar do mundo, e ainda disponibiliza suporte, informações, avisos, circulares e outras informações de interesse da instituição.

Mas isto mudou muito pouco a prática cristã deste povo, o culto é idêntico ao recomendado na convenção de 1936 já antes praticado, os ditos tópicos de doutrinas e os costumes morais são os mesmos. A afirmação de Foerster em seu artigo sobre as relações de poder e política interna na Congregação nos parece verdadeira, apesar de toda a evolução nos diversos campos do conhecimento, hoje experimentado pelo homem, a Congregação Cristã está na contramão em relação a suas irmãs pentecostais que amoldam suas práticas e doutrinas às condições sociais e morais das sociedades que estão inseridas, e se utilizam de todas as armas disponíveis que proporcionem o seu crescimento. A CCB parece não desejar simplesmente crescer, e isto merece um estudo mais profundo de toda a sua estrutura, que neste trabalho não será possível, e isto será tratado superficialmente.



4.1 PRINCIPIO DA ORGANIZAÇÃO

Como a própria Congregação Cristã em uma síntese de ensinamentos da Assembléia que ocorreu em abril de 2007, declara em seu sítio oficial na internet (inclusive é a única exibição nele), “que com o aumento do número de pessoas professando os mesmos princípios de adoração a Deus e não havendo locais particulares em que fosse possível reunir-se foi necessário adquirir-se locais para esse fim, havendo, a partir de então, a necessidade de se criar instituição com personalidade jurídica para poder legalizar as reuniões e titularizar a propriedade desses imóveis e, por isso, se denominou essa entidade de “CONGREGAÇÃO CRISTÔ, isto é, simples reunião de pessoas, sem qualquer formalismo ou personalismo, apenas imbuídas dos mesmos valores espirituais cristãos de adoração a Deus”.

É um conceito aceitável do que seu fundador criou no interior do Paraná, e ao retornar, em São Paulo, após um contato com a Igreja Presbiteriana do Brás, onde alguns membros aceitaram a mensagem pentecostal, bem como alguns batistas, metodistas e católicos romanos. Surge a primeira "Congregação Cristã" organizada no país, uma pequena reunião familiar.

Então Francescon, em fins de setembro de 1910 parte com destino ao Canal do Panamá, deixando o primeiro templo pentecostal no Brasil. A Congregação Cristã espalha-se, inicialmente entre as colônias italianas, difundindo sua fé a todos os povos do mundo a partir dos estados de São Paulo e Paraná.

A primeira Convenção das Igrejas da Congregação Cristã no Brasil ocorreu em 1936, presidida pelo Ancião Louis Francescon, e veio compilar todos os ensinamentos proferidos até então referentes à doutrina, costumes e condutas morais, em 1940 haviam 305 templos e 17.761 almas, conforme Histórico da Obra de Deus, ocorrendo uma Reunião Geral de Ensinamentos do ano de 1948.

Outra intervenção deste porte ocorreu apenas em 1998, quando nas Reuniões Gerais, compreenderam a necessidade de uma nova edição do resumo das deliberações de 1936 e 1948, sendo a alteração mais considerável a atualização ortográfica, para não tirar o sabor do que foi feito, como diz o prefácio da nova edição do resumo. Hoje totalizam quase 20.000 templos e aproximadamente 3 milhões de membros.



4.2 CONGREGAÇÃO CRISTÃ DO BRASIL PARA O MUNDO

Sem duvida a Congregação Cristã em Portugal é a que mais se expandiu, sendo a porta de entrada aos demais países da europa, teve origem no retorno do emigrante português Domingos de Sá em 1938 de São Paulo, Brasil, onde conhecera a Congregação Cristã. O núcleo original da Congregação Cristã em Portugal foi na cidade do Porto, e durante o regime salazarista foi perseguida, o que levou a emigração de crentes portugueses para a França, Holanda, Luxemburgo, Suíça e Bélgica, resultando as Congregações Cristãs daquelas nações.

Só depois da Revolução dos Cravos em 1974 foi oficializada, e o primeiro local de reunião pública aberto no Porto. Em 2006 haviam aproximadamente 200 congregações em Portugal, o vale do Rio Douro concentra a comunidade que é a maior das denominações evangélicas da região.

Na América do Sul é bastante difundida, contando com o apoio dos irmãos brasileiros que se fazem presentes em cerimonias importantes e com apoio logístico em comunidades mais pobres, o mesmo ocorre na Africa que se expande através da Angola, Africa do Sul, Zimbabwe, e Republica do Congo. No Japão, segundo o Relatório de 2006/2007, haviam cerca de 23 igrejas, e 2 duas legalizadas em Israel. Não há registros de templos oficializados na China.



4.3 A POLÍTICA QUE MANTEM O PODER E A TRADIÇÃO

A Congregação se manifesta oficialmente sobre qualquer assunto somente através do Conselho de Anciães ou da Presidência da Administração, o que lhe confere uma centralização e unidade nas decisões, porém o que fortalece realmente toda a sua estrutura é a soberania atribuída ao Conselho de Anciães, e a centralização das decisões sobre assuntos importantes que, após levantados todos os detalhes serão resolvidos por orientação divina, sendo a decisão registrada em ata com todos os seus detalhes, tudo de acordo com ensinamento da Assembléia de 1969.

O conselho é composto por no mínimo três anciães ou mais (é comum a participação de aproximadamente 20 anciães), apesar de não haver norma alguma sobre esta composição, podemos ver que já no registro da convenção de 1936 haviam três anciães, sendo um o presidente.

Também não há regra clara para sucessões da presidência, o conselho de anciães é apenas um ajuntamento, sem maiores formalismos, onde não há hierarquia como dito na Reunião Geral de 1948, nos ensinamentos de 1972, e no Artigo 18 do atual Estatuto, este último diz que haverá apenas um respeito à antiguidade relativa entre os membros. Além do mais o indicado pode recusar a presidência por uma série de fatores. Podemos concluir que não há como definir previamente os sucessores em tais conselhos, que são a instância máxima da autoridade institucional.

À decisão do Conselho é atribuída uma certa soberania, clara em alguns casos, e implícita em outros. Esta espécie de gerontocracia possui duas faces, segundo a perspectiva Weberiana, teríamos um domínio institucional tradicional, pois já faz parte da tradição obedecer sem questionar a autoridade do Conselho, que possui sua dignidade revestida pela crença de que os mais velhos conhecem melhor a tradição sagrada.

Estes Anciães levam a cabo as políticas da igreja exercendo também uma certa influência carismática pessoal, que se manifesta de forma proporcional à sua imagem diante do grupo. Aristóteles defende que um bom líder não pode ser muito jovem, conforme os Ensinamentos da 52ª e 66ª Assembléias de abril de 1987 e abril 2001 respectivamente, a perspectiva da CCB concorda muito com ele, já que se toma o cuidado de, antes da apresentação do membro, verificar vários quesitos como conduta moral e profissional, antecedentes, se está livre de vícios, das paixões da juventude, e de inclinações políticas, consideram-se primeiramente o tempo que participa na igreja, inclusive na mesma localidade, e a idade, não devem ser novos.

Também não há carreira, um cargo não leva a outro, em observação superficial veremos dois ministérios ditos ungidos, o de ancião e o de diácono, nos dão impressão de que o último levaria ao primeiro, mas há regra que os distingue entre mesa da piedade que será atendida pelo diácono e mesa espiritual atendida pelo ancião, “todavia, a obra de Deus não é carreira ou sociedade ou política, nem curso militar que se vai galgando”, esclarece um tópico de ensinamento do ano de 1970.

Observamos na prática uma variedade muito grande na origem dos membros indicados a ancião ou diácono, desde membros ditos de banco, sem ministério ou cargo algum, passando por porteiros, administradores, cooperadores, e para ancião pouquíssimos diáconos.



5. A DISTÂNCIA ENTRE O ESTADO DE DIREITO E A IGREJA

A Congregação Cristã no Brasil, crê na separação total entre Estado e religião, sendo uma organização totalmente apolítica, sem ligação nem manifestação de apoio a causas ou partidos políticos, candidatos a cargos públicos, nem mesmo a ongs ou qualquer outra instituição governamental ou não, e deixa isto claro em seu estatuto.

Se algum membro de seu corpo ministerial aceitar cargos políticos, deverá renunciar ao seu cargo congregacional. Aconselha seus membros a nunca votar em partidos que negue a existência de Deus e a sua moral, conforme dita nas reuniões gerais de 1948.



5.1 CONTATO FRIO ENTRE PESSOAS JURÍDICAS

Se relaciona com a estrutura do Estado somente no estrito cumprimento da lei, alias o respeito às autoridades constituídas é uma característica do pentecostalismo, seja o governo opressor ou não, recomenda cuidado nos sermões para não atacar a cultura governamental (assembléia de 1997), autoriza registros fotográficos de suas cerimonias somente a enviados do governo (assembléia de 1970), proibe aos membros fazer declaração diante da igreja que sofrem perseguição por sua ideologia política, e mesmo pedir que a “irmandade ore para Desus livrar a este ou aquele de processos na polícia ou nos tribunais” (assembléia 1970), consideram o direito da justiça estatal de julgar e punir como posta por Deus.

A Assembléia de 1984 aconselha que é bom e agradável diante de Deus que todos orem pelo governo de nossa nação e de todas as outras, pelos reis, dirigentes e autoridades constituídas. A Congregação considera incompatível à sua doutrina o envolvimento de seus membros em direção de sindicatos, associações de classe ou moradores, e também em movimentos de protestos contra o governo (assembléia de 2004)

A Congregação Cristã considera que atender à convocação dos Tribunais Eleitorais é dever cívico de seus membros, e isto não os envolveria na política, da mesma forma, quando sorteados para integrar o Tribunal do Júri “devemos atender, cumprindo esta tarefa legal” (assembléia de 1969, 1996).

Em circular á irmandade lembra o excelente conceito da Congregação diante do governo, e que é dever de todos os seus integrantes zelar pela boa reputação. Apesar de todo este respeito e cuidado com o governo a CCB não deseja possuir vínculo político, e diz que não convém convidar políticos ou autoridades para cerimônias de abertura de novos templos (assembléia 1965), também recusa solicitações de empréstimos de suas instalações para qualquer fim, com exceção à requisição do TRE para ocupação durante eleições (assembléia de 1964).

Adverte que serão repreendidos energicamente todos os participantes do ministério que se envolverem de alguma forma em política, e serão desconsiderados como “irmãos na fé” (assembléia de 1969, 1977, 1983), reconsidera na Assembléia de 2001 quanto à expulsão do membro, permitindo que este participe da igreja sendo considerado como “irmão”, mas lhe veda qualquer pronunciamento junto à comunidade sobre suas convicções políticas.

Lembra que o voto deve ser livre e secreto, e nenhum candidato terá autorização para utilizar o nome da igreja em suas campanhas (assembléia de 1983, 1996). Outra particularidade é o seu orçamento, que prevê suas receitas única e exclusivamente advindas de doações espontâneas, e não aceita doação de patrimônio por parte do Estado, agradecem, mas recusam inclusive as verbas votadas em seu favor por diversos políticos (assembléia de 1965, 1966).

Orientam aos Departamentos de Construções para que evitem construir templos suntuosos e com formato diferente do costumeiro, para se evitar custos desnecessários (Reuniões Gerais de 1948). A Congregação Cristã possui um atendimento social independente conhecido pelos membros por Obra da Piedade, obras pias no estatuto. Esta “obra” é administrada pelos diáconos e irmãs auxiliares, que apuram dentre a comunidade quais são as famílias que estão passando por dificuldades, e posteriormente deliberam sobre o atendimento ou não.

Os diáconos são responsáveis por escriturarem os atendimentos separadamente, sendo mantidos de certa forma sob sigilo (Assenbléia de 1964). Muitas organizações religiosas operam políticas assistenciais do governo ou ongs, a CCB aceita auxiliar na distribuição de alimentos, porém não autoriza a divulgação do nome da instituição como parceira, um caso destes esta comentado em tópico de ensinamento da assembléia de 1964, envolvendo donativos dos norte americanos.

Os diáconos são aconselhados a dosar o atendimento assistencial de forma que os membros auxiliados não necessitem de atendimentos complementares (assembléia de 1993).



5.2 COMUNIDADE EXEMPLAR, E A INFLUÊNCIA SOCIAL

Não há corpo missionário todos são “evangelistas” em potencial, Francescom é prova disto tendo viajado toda a américa e uma outra parte do mundo apregoando sua prática do evangelho, outro exemplo é Beatriz dos Anjos Povoa, portuguesa que chegou ao Brasil em 1941, tendo fixado moradia na região do bairro Pari na cidade de São Paulo, vizinho da colônia italiana no bairro do Brás, ouviu a mensagem da Congregação por uma mulher que não possuia cargo ou ministério, após se ver viúva Beatriz viajou por muitas localidades brasileiras apregoando o evangelho da forma que havia recebido, ou seja, pessoa a pessoa, não contan com uma estrutura institucional para missionários profissionais.

O bom testemunho, ou boa conduta social, é importante junto à comunidade, pois chama a atenção de pessoas pré dispostas a se engajar em uma comunidade religiosa, é também pré requisito para se acessar qualquer cargo ou ministério.

Sem duvida a orquestra da Congregação Cristã no Brasil também é um standart para a sociedade, muitos mencionam a música sacra como sendo o motivo da primeira visita à igreja, e a partir daí chega-se à conversão. A música congregacional executada hoje na CCB e muitas outras igrejas retomou sua importância religiosa com Martin Luther, que elaborou o primeiro hinário alemão, "Achtliederbuch" (Livro dos oito cânticos).

Escreveu ainda 33 peças de canto congregacional, aproveitando cânticos em latim, ainda revisou hinos em alemão anteriores ao movimento reformista. Nas melodias de Lutero, que tinha formação musical, havia forte acento rítmico. A maior contribuição de Lutero à hinódia foi a restauração do canto congregacional, e seu mais famoso hino é "Ein'Fest Burg" (Um castelo forte), escreveu a letra (não a utilizada pela Congregação que a reformou, e esta presente no atual hinário, 1994).

A CCB provê aos fiéis escolas musicais gratuitas, que normalmente são ministradas em suas dependências comuns, via de regra no próprio salão de cultos. Atualmente, possui em sua orquestra os mais diversos instrumentos, sempre tocados por homens, com exceção do órgão eletrônico que é executado somente por mulheres, em alguns países as mulheres possuem liberdade para executar os demais instrumentos compondo uma única orquestra mista.

Utiliza-se de um hinário, "Hinos de Louvores e Súplicas a Deus", agora em sua quarta edição de 1965, basicamente formado por melodias universais, principalmente norte americanas, italianas e européias, com poesias inspiradas em trechos bíblicos. Possui 450 hinos distribuídos entre ocasiões específicas, como batismos, santas ceias, funerais, e de Jovens, além de sete coros.

O livro original chamava-se Inni e Salmi Spirituali, publicado, no começo do século XX, pela Assemblea Cristiana Italiana de Chicago, Ill, USA. Curiosamente a CCB não produz e não autoriza gravações de seus hinos (assembléia de 2001), considerando a finalidade da execução unicamente o louvor, que para ser válido deve partir da ação direta do homem em tempo real. Existe porém várias influências um tanto mais complexa desta comunidade junto às sociedades que não abordaremos nesta edição do trabalho, pois temos limitado o tempo e alguma logística.



6. DAS REGRAS INTERNAS, ORGANIZAÇÃO E CONDUTA

O pentecostalismo inicialmente sofreu influência de preceitos Calvinistas, e com o tempo se adaptaram, ou se extinguiram. A Congregação Cristã teve origem marcada por estes preceitos. A doutrina da predestinação é ponto crucial, herdada de seu fundador e primeiros membros, que levou a igreja a tomar caminhos conservadores, escolhendo o isolamento e aguardam os que hão de se salvar, pois virão até a igreja, profecia de Francescon.


6.1 A GUIA DOUTRINÁRIA

Há os pontos de doutrina e da fé que uma vez foi dada aos santos, são 12 considerações que servem de base para a orientação bíblica na Congregação, porém nos limitaremos a transcreve-los nos anexos, por não gerar conflito ou pluralidade jurídica internamente, alvos de nosso propósito nesta edição do trabalho junto a esta comunidade.

Outrossim, abordaremos alguns assuntos conflituosos que a Congregação apresentou suas soluções e interpretações diferentes das correntes religiosas normais. Começemos pelo estudo da bíblica que é regra à grande maioria das denominações, iniciando pela Católica Romana que forma seus sacerdotes com grande carga de estudos, porém não é assim na Congregação que não acredita na necessidade de se preparar técnicamente para as pregações, deixando todo o ensino e orientação para o Espirito Santo, que creem, cuidará do sermão desde a escolha do membro, que poderá ser qualquer um com idoneidade reconhecida pela comunidade, passando pela escolha da passagem bíblica, e finalmente a exortação ou mensagem atual baseada na leitura, que pode vir carregada de correções, de instruções, ou mesmo de palavras de conforto á comunidade.

Confiam que o Espirito Santo tudo realiza, sem necessidade de propagandas, pregações públicas, ou mesmo estudos em seminários (assembléia de 1964), porém recomendam o preparo técnico científico no cotidiano, por ser indispensável diante do desenvolvimento (assembléia de 1971).

Aos jovens há algo parecido com as escolas dominicais evangélicas, apesar de algumas diferenças, são as “reuniões para jovens e menores” iniciadas em 1936, onde, além dos cooperadores, os jovens e até mesmo os menores devidamente guiados por Deus poderão apresentar a palavra (assembléia de 1990), devido a estas reuniões regulares, membros desta comunidade tem conseguido dispensa das aulas de educação religiosa na rede pública de ensino (assembléia de 1995).

Sem dúvida o dízimo também é um dos temas mais controvertidos entre os cristãos, desde os primórdios. Vejam os puritanos ingleses eram contra a obrigação do dízimo, e a favor da criação de contribuições voluntárias que manteriam as igrejas.

Porém ocorreu diferente, ele se manteve, e até nossos dias há a difusão da idéia de que o dízimo é devolvido, e não dado a Deus (se é de Dele, ninguém ousará não devolve-lo). Nisto a Congregação compartilha algo próximo do entendimento de Calvino, que devemos ensinar que todos são livres a dar ou não, que não há mínimo, e que Deus ama a quem dá com alegria, que devemos estar prontos a repartir generosamente nos guardando da avareza, e acumulando tesouros no céu.

Compete ao ancião ou cooperador falar ao povo sobre as coletas para as necessidades da igreja, obra da piedade, e algumas outras, ensinam que a colaboração deve ser com amor e alegria segundo o propósito no coração, e conforme a sua prosperidade (assembléia de 1964). Não pagam dízimos e sim coletas, e se orgulham em não pagar salários ao ministério ou administradores, sendo que todos prestam seus serviços de forma voluntária, de acordo com o estatuto, 2004.



6.2 OS ENSINAMENTOS DA MORAL E DO COSTUME

Em nossas referências utilizamos bastante o termo “assembléia de tal ano”, isto devido a maior parte das regras de conduta moral e dos costumes da Congregação são reguladas pelos chamados “ensinamentos”, pequenos tópicos que tratam um assunto cotidiano e impõe uma conduta determinada à “irmandade”, em pesquisa junto à comunidade concluímos que estes ensimamentos gozam de grande aceitação, já que menos de 10% dos membros dizem não obedecer por não concordar com as decisões contidas neles.

Abordaremos alguns poucos pontos que se destacam do costume corrente, inicialmente veremos como a Congregação Cristã trata o ecumenismo, ou melhor, não trata, pois não aceita união de doutrinas divergentes , nem mesmo se movimenta para gerar um agrupamento futuro, em hipótese alguma aceitam “estranhos à fé” ministrando em seus templos, assim são chamados os que não praticam sua ideologia religiosa, e se alguém se aventurar em levantar diante do povo será impedido pelo responsável pelo atendimento àquele rebanho (assembléia de 1961).

A CCB jamais se unirá, deixam claro quando nem mesmo responde às propostas de outras denominações, permanecendo sempre em seus fundamentos crendo que Deus se retiraria de seu meio caso aderissem ao ecumenismo (assembléia de 1964). Algo mais próximo de um vínculo que notamos é com a Sociedade Bíclica do Brasil, há um fundo especial para suprir as encomendas de publicações desta instituição, principalmente a bíblia na versão aceita de João Ferreira de Almeida, também há uma contribuição anual em auxílio a esta sociedade, que creem ser determinação de Deus (assembléia de 1964 e 1965).

Outra fonte de conflitos internamente solucionados são os casamentos, não fazem cerimonias religiosas, justificam por não haver nenhuma referência bíblica para tal, bastando que os envolvidos estejam de acordo com a lei estatal, porém não proibe festa em comemoração ao casamento, mas sempre vigilante recomenda evitar excessos em bebidas, musicas, etc.

No que refere ao divórcio consideram que, se houve adultéria a parte ofendida é livre para se separar e casar novamente, isto por considerar que o adultero está morto espiritualmente, mas não aceita divorcios por outro motivo que não seja infidelidade, e os que isto fizerem serão considerados pecadores, sendo desconsiderados como “irmão” em em meio à comunidade (assembléia de 1971). Também recomendam condutas em festas de formatura, seus membros não poderão participar da cerimônia religiosa e do baile, restando apenas a colação de grau (assembléia de 1978).

Consideram também as praias um ambiente mundano, recomendando a seus membros buscarem praias isoladas ou com menor freqüêcia de banhistas, então este comportamento será tolerado, desde que não abusem nos trajes (assembléia de 1983). Outro comportamento reprovado são as caçadas e pescarias, esses entretenimento podem levar seus participantes ao vício do alcolismo, por isto estes comportamentos são aceitaveis apenas quando se trata de profissão (assembléia de 1972).

A justiça estatal é evitada ao máximo, é muito comum ouvirmos seus membros falarem que “deixaram a causa nas mãos de Deus”, isto significa que há

de fato uma resistência em acessar este mecanismo, devido a costume antigo que se perpetua, confiam que Deus lhes resolverão as causas (assembléia de 1962). Nos casos que a igreja julga internamente recomenda que se proceda com muita prudência, ouvindo sempre as duas partes em litígio, aos integrantes do conselho aplica-se uma idéa de suspeição em caso de parentesco, zelando pela imparcialidade (assembléia de 1978).



7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destacamos aqui pontos históricos e conflituosos nesta singular comunidade religiosa, procurando o nosso objetivo, pluralidade jurídica, sem interferir nos seus conflitos particulares internos, ou mesmo discutir sobre sua doutrina, não há de forma alguma interesse teológico em nosso foco.

Houve necessidade de tratarmos sucintamente todos os assuntos, devido ao curto espaço de tempo e a riqueza dos quase 100 anos de história da Congregação Cristã no Brasil, mas esperamos ter atingido nosso objetivo, ao demonstrar que há uma solução interna de boa parte de seus conflitos e assuntos gerais. Em sociologia, se considera ação social qualquer ação que leva em conta ações ou reações de outros indivíduos ou sociedades, esta comunidade religiosa é riquíssima em eventos que modificam tudo em si, e ao seu redor, deste épico resumimos, resumimos, e chegamos ao trabalho que colocamos à vossa disposição.



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BIBLIOGRAFIA



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Fonte: http://benepatvan.blogspot.com/2010/05/pluralidade-na-ccb.html